segunda-feira, 16 de maio de 2011

TEXTO - Reflexo de descida.

Fazer leite, algo tão simples e automático quando há estimulação suficiente pela sucção e qdo o leite fabricado está sendo removido de modo adequado é apenas metade da lactação. Dar o leite é a outra metade, igualmente importante. (...)

É preciso o funcionamento de um reflexo dentro do seio, para pôr em disponibilidade todo o leite para o bebê, que é denominado de "reflexo de descida" (...) nos lobos secretores de leite, dentro do seio e ao longo das paredes dos dutos, localizam-se células em forma de polvo chamadas de "células-cesto" que expandem seus braços finos como linha em redor dos alvéolos e das paredes dos dutos. Quando o reflexo de descida atua, todas essas células se contraem. (...) o leite é rapidamente empurrado para dentro dos principais sinos lácteos sob o bico do seio. (...)

Quando o bebê mama, na verdade ele não remove o leite pela sucção. A sucção que ele exerce é meramente suficiente para manter o bico do seio no lugar certo no fundo da boca. A seguir, com a língua e os maxilares comprime a auréola e os grandes sinos lácteos, pressionando o leite que aí está para dentro da sua boca. Nesse sentido, o bebê ordenha o seio (...) quando o bebê começa a mamar, em geral esvazia os sinos lácteos com uma rapidez razoável. 

No meio tempo, as sensações tácteis recebidas pela mãe em seu bico de seio altamente sensível desencadeia a liberação do hormônio que faz as células-cesto se contraírem. O leite desce. Os sinos tornam a encher imediatamente, tão rápido quanto o bebê consiga esvaziá-los. Ele quase não precisa fazer força para ordenhar; o leite começa a escorrer para dentro de sua garganta, por si mesmo. Portanto, mesmo um bebê muito pequeno ou fraquinho consegue uma quantidade suficiente de leite, quase que sem esforço. Na verdade, um bebê recém-nascido pode ver-se inundado pela súbita abundância de um poderoso reflexo de descida. É capaz de sufocar, engasgar, cuspir, engolir leite pelo nariz, ter que soltar o bico e recuperar o fôlego enquanto o leite vai se desperdiçando, esguichando sobre todas as roupas de cama e em seu rosto. Felizmente, a maioria dos bebês ficam excitados em vez de assustados com estes pequenos desastres, e volta ao seio com uma avidez enérgica.

O funcionamento do reflexo de descida é crucial à amamentação do bebê, não só porque este recebe apenas 1/3 do leite sem a presença do reflexo, mas porque consegue receber o conteúdo de gordura láctea somente se o leite descer sozinho. Já se sabe de há muito que os últimos goles de leite são os mais nutritivos (...) [foi demonstrado] que as partículas de gordura, sendo pegajosas, tendem a ficar presas às paredes dos dutos e alvéolos sendo removida apenas qdo os alvéolos forem esvaziados. Como já vimos, estes nunca são esvaziados se o leite não descer por si. Dado que no leite humano 50% das calorias está contida no teor de gordura, um reflexo de descida inibido significa um bebê faminto (...)

Se o leite desce por si, então o conteúdo de gordura do leite vai subindo ao longo da amamentação, atingindo seu ponto máximo no final da mamada. Embora o primeiro leite pareça fino e azulado, as últimas gotas são cremosas e brancas (no seio que o bebê não está mamando a gordura mistura-se ao leite à medida que acontece a descida, e a diferenca é menos notória). (...)

O reflexo de descida é uma simples resposta física a um estímulo físico. Supõe-se que funcione com a regularidade de um relógio. Por que então seria o problema com o reflexo de descida a causa básica de quase que todos os fracassos de amamentação natural? Porque este reflexo é profundamente afetado pelas emoções da mãe. (...)

Talvez o instrumento mais fácil à disposição da mãe ou do médico para encorajar um bom reflexo de descida seja a natureza do próprio reflexo. Este é muito facilmente condicionável. Expondo-se a mãe a algum outro estímulo constante, é possível "ensinar" ao reflexo de descida a agir quando necessário, mesmo na presença de fatores inibitórios. (...) qualquer rotina seguida costumeiramente antes da mamada, como beber um copo de leite, limpar os seios com água, ou apenas sentar e desabotoar a blusa pode ser um estímulo condicionador do reflexo de descida (...)

Os sintomas iniciais de uma descida irregular, como vazamentos descontrolados, leite vindo em horas erradas ou não vindo de jeito nenhum, e flutuações acentuadas na produção de leite, diminuem à medida que o reflexo se tornar realmente bem condicionado e firme. (...) 

O reflexo de descida bem condicionado, na mãe experiente em amamentação, é o segredo de sua ampla e estável produção de leite, dia após dia, e de seu bebê satisfeito. É difícil ela pensar a respeito; pode até nem ter consciência das sensações de comichão ou de dilatação, conforme o leite vem. Seu filho quer mamar, ela lhe dá o peito e o leite desce: é infalível. (...) quando o reflexo de descida está realmente seguro, mesmo um choque emocional forte poderá não abalá-lo.

Fonte: livro "a arte de amamentar", de karen pryor, summus editorial, pp/ 36-41.

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